Continuidade de Negócios: sua organização está preparada?
por Reinhold Spandl, Diretor da Athena Soluções Inteligentes
Continuidade de negócios é um assunto que a maioria das organizações relegam a segundo plano. Salvo aquelas que possuem a obrigação regulatória ou alguma outra forma mandatória, é raro encontrarmos empresas que agem de forma proativa porque enxergam a importância do tema.
Por isso, é fundamental levarmos a reflexão a outro patamar, fazendo uma analogia com a época inicial da venda de seguro de vida ou de automóvel. Não éramos acostumados a comprar seguros e os vendedores, invariavelmente, utilizavam argumentos como a morte do cliente, o roubo do carro e outras técnicas de convencimento agressivas. Com o passar do tempo, passou-se a vender a educação dos nossos filhos, a arcar com prejuízos causados a terceiros e outros problemas que, além de mais comuns, eram menos agressivos. Mesmo assim, convencer os clientes continua difícil.
Veja um exemplo de um caso real, do qual eu fiz parte:
“Trabalhava em um banco, por volta de 1998, e um executivo de negócios (do banco) tinha em sua carteira metas de vendas de seguro. Certo dia, ao ver a lista de clientes que não possuíam seguros, me deparei com o fato de que ele mesmo não possuía o serviço.
Então, tentei vender o mesmo seguro para ele, acreditando que seria fácil porque, afinal de contas, ele já praticava todo o discurso junto aos nossos clientes.
Logo que comecei o discurso, ele sacou sua HP12 (calculadora financeira, para os mais novos), fez todos os cálculos e as probabilidades, e segundo ele, me PROVOU que não valia a pena.
Argumentei… “veja bem, é provável, pode acontecer e, acontecendo e causando danos a terceiros, como você irá fazer frente ao acontecido? Tem capacidade financeira?”. Não adiantou, o seu raciocínio estava no fato de que nunca bateu e, quando bateu, ficou abaixo da franquia. Logo, não seria necessário e, pior, era perda de dinheiro.
Mas o mundo das probabilidades e possibilidades é cruel: duas semanas após nossa conversa, ele entrou na minha sala me chamando de “boca de praga”, pois tinha acabado de acertar uma MERCEDES-BENZ C 240 ZERO KM (provavelmente uma das 3 que existiam na cidade), ocasionando perda total, fora seu próprio carro.
Moral da história: não é porque não aconteceu com você, ou com ninguém, que nunca irá acontecer!”
Eventos que afetaram diretamente a continuidade dos negócios
Eventos até certo ponto extremos, mas que ocorreram, e muitos eram ditos quase impossíveis:
11/09/2001 – Ataques às torres do Word Trade Center. Foram afetadas mais de 1.200 empresas. Mas você sabia que foi em 1993 que ocorreu o primeiro atentado ao WTC? Muitas empresas nem se atentaram para isso!
2001/2002 – Brasil sofreu com vários apagões elétricos e, por muitos anos, continuamos com problemas de panes, mesmo que localizadas em determinadas regiões. Atualmente este risco está alto por problemas com secas e falta de investimento. Fica a pergunta: e se o Brasil voltar a crescer rapidamente?
Abril/2009 – Parada total dos serviços de dados SPEEDY, da Telefônica. Milhões foram prejudicados, tanto particulares quanto empresas. Foram várias as especulações sobre o motivo, a mais concreta sendo um ataque cibernético, mas o maior problema foram alguns dias para se chegar a essa conclusão, enquanto muitos de seus clientes ficaram 48 horas “a ver navios”. Quem se lembra, sabe o que foi – o estado de SP ficou mudo!
2015 – Rompimento da barragem de Mariana, impactos chegaram a 650 km de distância, da foz do Rio Doce até o litoral do Espírito Santo. Depois dessa tragédia, foram inumeradas centenas de barragens pelo Brasil em situação crítica.
Estes eventos foram mais catastróficos para as empresas (a maioria) que, de alguma forma, não estavam preparadas para reagir em tempo adequado.
• Vidas foram perdidas
• Conhecimento foram perdidos
• Máquinas
• Ambientes físicos
• Negócios paralisados
• Custos inesperados
• Empresa faliram
Mas, para algumas organizações, foi perdido apenas tempo, porque não se sabia o que, quem, quando ou como fazer as coisas em um momento atípico. Entretanto, tempo era justamente o que algumas empresas não tinham. Não era possível treinar novos funcionários, conhecimento se perdeu, prazos de contratos se esgotaram, capacidades de entrega tornaram-se nulas. Se tivessem tempo, se reergueriam! Mas não tinha tempo!
Continuidade de negócios não é extremismo
Existe sempre aqueles que consideram estas situações como extremismo, pois não ocorrem a toda hora e, muito menos, em todo lugar. A COVID-19, por exemplo, não escolheu país ou empresa. Ninguém foi deixado de fora. Este evento afetou a todos de alguma forma, alguns rapidamente se ajustaram, outros andam com dificuldades, e muitos sumiram do mapa em pouco tempo, pois essa situação talvez não tenha sido pensada por 99,99% das empresas do MUNDO, bem como muitas organizações que olhavam apenas para si mesmo e esqueceram dos prestadores de serviços ou fornecedores.
O efeito deste evento não é em um momento específico, ele se mostra persistente, nos colocou frente a uma necessidade de preparo e ajustes quase constante. Acessos foram dificultados, locomoção inviabilizada, home office foi demandando! E a estrutura necessária? Durante um período foi difícil comprar um notebook para home office, foi difícil estruturar de forma segura o acesso remoto à centena de pessoas. Funcionários faleceram, outros estão com problemas emocionais, ficaram doentes, e tantos outros impactos que já conhecemos,
Então aprendemos a lição? Pode acontecer de novo? Pode acontecer com minha organização? Pode acontecer com meu fornecedor? A resposta é: se é provável, sim, poderá acontecer! Não fique perdendo tempo perguntando “se” vai acontecer – pergunte “se acontecer, o que sua organização fará?” Qual será o impacto?
Continuidade negócios é fundamental! Mesmo que você execute apenas uma análise de impacto (Business Impact Analysis – BIA) para pelo menos ter ciência de qual o seu contexto e exposição e, a partir daí, tomar a decisão com base nos cenários de riscos em função do rol de eventos que podem ocorrer.