A importância estratégica da gestão de riscos na Era das Transformações
Por Kauê Souza
Navegando em um Cenário de Incertezas
A norma ABNT NBR ISO 31000 define risco como “o efeito da incerteza nos objetivos”. Em um cenário global dinâmico e volátil, esse efeito pode se manifestar tanto como uma ameaça a ser mitigada quanto como uma oportunidade a ser aproveitada. A recente popularização e implementação massiva de tecnologias como a Inteligência Artificial (IA) intensificaram essa volatilidade, introduzindo um novo paradigma de incertezas para as organizações.
Pesquisas recentes indicam que o uso de IA nas empresas já ultrapassa os 70%. Embora essa adoção represente um salto em inovação e eficiência, ela simultaneamente expõe as organizações a riscos inéditos, especialmente no que tange à governança e segurança de dados.
Diante de tal cenário, esse artigo aborda a relevância crítica da Gestão de Riscos, seus benefícios e como ela se posiciona como um pilar estratégico para a sustentabilidade e a confiança no ambiente de negócios atual.
O Paradoxo da Inovação: Ferramentas Avançadas vs Fundamentos Fragilizados
Muitas empresas, na busca por se manterem competitivas, focam seus esforços na adoção de ferramentas de ponta, negligenciando a estruturação de processos maduros de governança e segurança. O avanço acelerado no uso da IA no Brasil evidencia esse desafio: a tecnologia é implementada, mas a maturidade para gerir os dados associados a ela ainda é um obstáculo significativo.
Surge então uma questão fundamental: de que adianta uma ferramenta inovadora se ela não for segura e bem gerenciada? O que é concebido como uma solução pode rapidamente se transformar em uma vulnerabilidade crítica para o seu negócio. A Gestão de Riscos atua precisamente nesse ponto, garantindo que a implementação de novas tecnologias seja acompanhada de uma análise profunda e criteriosa de suas possíveis consequências e, claro, oportunidades.
As Consequências da Negligência: Possíveis Impactos no Negócio
A ausência de uma gestão de riscos eficaz pode levar a consequências severas. Um exemplo notório é o caso do Serasa, que enfrentou um requerimento do Ministério Público Federal para o pagamento de uma multa superior a R$ 200 milhões devido a um vazamento massivo de dados de usuários.
Mas esse não é um evento isolado. Incidentes de segurança e vazamento de dados tornaram-se cada vez mais comuns, causando não apenas prejuízos financeiros diretos (multas, processos judiciais), mas também danos profundos e, por vezes, irreparáveis à reputação da marca. Afinal, em um mundo digital, a confiança é um dos ativos mais valiosos.
Gestão de Riscos como Diferencial Competitivo e Entrega de Valor
Diante da crescente exposição de informações pessoais, os consumidores estão mais atentos e exigentes. A segurança de seus dados tornou-se um fator decisivo na escolha de produtos e serviços. Nesse contexto, empresas que demonstram um compromisso sério com a proteção de dados não estão apenas cumprindo uma obrigação legal, mas construindo um poderoso diferencial competitivo.
Portanto, a importância da Gestão de Riscos transcende a simples prevenção de perdas. Ela está intrinsecamente ligada à entrega de valor para o cliente. Garantir a segurança e a privacidade é uma forma de demonstrar respeito e fortalecer o relacionamento, o que se traduz em lealdade e sustentabilidade para o negócio.
Por Onde Começar? Dicas de Estruturas e Ferramentas de Apoio
Para as empresas que buscam estruturar ou aprimorar seus processos, o caminho não precisa ser percorrido do zero. Felizmente, existem diversas ferramentas e frameworks consolidados que fornecem diretrizes claras. Entre os principais, destacam-se:
- ISO 31000: Oferece os princípios, a estrutura e o processo para a gestão de riscos em qualquer tipo de organização.
- ISO 27001: Focada especificamente na gestão da segurança da informação.
- COSO (Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission): Um framework amplamente utilizado para controles internos, gestão de riscos e prevenção de fraudes.
- COBIT (Control Objectives for Information and Related Technologies): Um guia para a governança e gestão de TI da empresa.
- Diagrama de Ishikawa (Espinha de Peixe): Ferramenta Visual, focada em identificar as causas potenciais de um problema.
- Os 5 porquês: Técnica que busca encontrar a causa raiz de um problema.
A escolha e a adaptação desses frameworks devem ser feitas de forma personalizada, levando em consideração o contexto, a necessidade e o nível de maturidade de cada organização.
Mais que Apenas Segurança, uma Visão Estratégica
Gerir riscos é muito mais do que apenas implementar controles de segurança interna. É uma disciplina estratégica que envolve estar atento às nuances do mercado, antecipar ameaças e identificar oportunidades. Em uma era definida pela incerteza e pela rápida evolução tecnológica, uma cultura de gestão de riscos bem estabelecida é o que permite que uma empresa inove com segurança, proteja seu valor e, acima de tudo, honre a confiança de seus clientes.
